Atriz de novelas como "Jogo da Vida" (1981), "Água Viva" (1980) e "Dancin' Days" (1978), Ticiana Studart já dirigiu atores como Paulo José, Zezé Polessa, Beth Goulart, Mariana Lima e Clarice Niskier. Já encenou autores como Nelson Rodrigues, Jean Genet, Jean Cocteau e Fassbinder. Já escreveu peça sobre Bukowski e deu aulas na CAL. Mas nos bastidores havia outra Ticiana: drogada, bêbada e bipolar.
Atriz e diretora, ela oscilava entre a depressão e a euforia, e se tornou irascível e arrogante. “Percebo que tinha me tornado um monstro”, escreve em “Fora do normal” (Record). Mas se reergueu graças a um médico argentino. No livro, ela é Paula. “Quis me distanciar. Escolhi Paula porque é o nome que daria se tivesse uma filha”, diz ela, que prepara o primeiro espetáculo após a recuperação. “O ensaio” reúne cinco peças curtas de Samuel Beckett e estreia em junho. No elenco, nomes como Leticia Sabatella e Rosane Gofman.
Ticiana fala da doença: “Todo bipolar tem o desejo de ficar hipomaníaco. É um estado em que você não fica maníaco, e está agitado e criativo na medida certa. Porque o equilíbrio para nós é muito estranho, já que nunca fomos equilibrados.”
REVISTA O GLOBO: Qual foi o pior momento?
TICIANA STUDART: Passei 11 meses numa cama, no escuro. Só abria os olhos para fumar e comer, em geral doces. A empregada ia umas sete vezes ao dia comprar torta. Cheguei a 94 quilos, em 1,60m. Agora estou com 72, e quero baixar para 65. Dilapidei quase todo o patrimônio, ligava a TV e passava a noite fazendo compras num canal de leilão de joias. Ficava agressiva, falava coisas absurdas. Os parentes deixaram de me visitar.
E como você foi tratada na ocasião?
Um psiquiatra famoso foi me ver e deu a sentença: “Ela se levanta com choques.” E tomei 12 sessões de choque elétrico. Mas não me levantei. Só me levantei para ir ao consultório dele dizer: “Você é egocêntrico e burro. Considera-se o maior psiquiatra em bipolaridade do Rio, mas não sabe o que faz!” Os choques fizeram um estrago na minha mente, esqueci até como se dava aula. Mas a memória está recuperada por completo, após dois anos de tratamento com uma neurologista.
Como era trabalhar nessas condições?
Bipolaridade não é brincadeira. Quando falo que sou, dizem: “Eu também sou.” Respondo: “Não, você não é. Você pode ter alteração de humor, todo mundo tem, mas transtorno de humor é outra coisa.” E tinha a bebida e a dependência química. Era muito difícil trabalhar comigo. Em “Música divina música”, o elenco se esforçando, apareci bêbada, grávida de seis meses. Bebia todo dia e tinha medo que meu filho nascesse com problema. Em “Tudo sobre mulheres” (com Beth Goulart, Clarice Niskier e Mariana Lima), eu já estava muito adoecida, faltava ensaios, as três iam lá em casa e eu trancava a porta. Tinha hiatos de sobriedade e recaía. Mas se Paulo José e Zezé Polessa trabalharam mais de uma vez comigo é porque eu tinha uma inteligência cênica.
Como você se recuperou?
Fui internada em quatro clínicas, duas para dependência química, duas por bipolaridade. Os diagnósticos eram confusos, falavam em borderline, sequela por dependência química, distimia, depressão... Só falavam por alto de bipolaridade. Até que fui tratada em Buenos Aires pelo doutor Eduardo Kalina (o mesmo de Maradona), que me diagnosticou e me estabilizou. Descobri que herdei a doença de meu pai.
Como você se sente agora?
Já passei por todos os transtornos ligados a bipolaridade: síndrome de pânico, obsessão, compulsão (TOC), ansiedade, mania, controle, euforia, depressão. Sei me proteger: quando começo a ter algum sintoma procuro meu psiquiatra, Jiosef Fainberg. E frequento grupo de mútua ajuda. Tomava 21 cápsulas de remédio por dia, hoje são 12. Sou uma bipolar que deu certo, equilibrada, mas sem perder a essência. Tenho desejo de abrir uma escola de teatro, fazer cinema, escrever ficção, voltar à TV. Mas não como atriz (atuou em “Dancin’ days” e “Água viva”), e sim apresentadora ou debatedora. É uma corrida pela minha recuperação. Alguns podem andar, eu tenho que correr. Mas sem pressa, porque o doutor Kalina diz que minha condição não permite pensar e executar várias tarefas simultaneamente. Hoje sou uma pessoa absolutamente possível para qualquer ser humano.
Fonte: Revista O Globo - O Globo - 31/01/10.
Atriz e diretora, ela oscilava entre a depressão e a euforia, e se tornou irascível e arrogante. “Percebo que tinha me tornado um monstro”, escreve em “Fora do normal” (Record). Mas se reergueu graças a um médico argentino. No livro, ela é Paula. “Quis me distanciar. Escolhi Paula porque é o nome que daria se tivesse uma filha”, diz ela, que prepara o primeiro espetáculo após a recuperação. “O ensaio” reúne cinco peças curtas de Samuel Beckett e estreia em junho. No elenco, nomes como Leticia Sabatella e Rosane Gofman.
Ticiana fala da doença: “Todo bipolar tem o desejo de ficar hipomaníaco. É um estado em que você não fica maníaco, e está agitado e criativo na medida certa. Porque o equilíbrio para nós é muito estranho, já que nunca fomos equilibrados.”
REVISTA O GLOBO: Qual foi o pior momento?
TICIANA STUDART: Passei 11 meses numa cama, no escuro. Só abria os olhos para fumar e comer, em geral doces. A empregada ia umas sete vezes ao dia comprar torta. Cheguei a 94 quilos, em 1,60m. Agora estou com 72, e quero baixar para 65. Dilapidei quase todo o patrimônio, ligava a TV e passava a noite fazendo compras num canal de leilão de joias. Ficava agressiva, falava coisas absurdas. Os parentes deixaram de me visitar.
E como você foi tratada na ocasião?
Um psiquiatra famoso foi me ver e deu a sentença: “Ela se levanta com choques.” E tomei 12 sessões de choque elétrico. Mas não me levantei. Só me levantei para ir ao consultório dele dizer: “Você é egocêntrico e burro. Considera-se o maior psiquiatra em bipolaridade do Rio, mas não sabe o que faz!” Os choques fizeram um estrago na minha mente, esqueci até como se dava aula. Mas a memória está recuperada por completo, após dois anos de tratamento com uma neurologista.
Como era trabalhar nessas condições?
Bipolaridade não é brincadeira. Quando falo que sou, dizem: “Eu também sou.” Respondo: “Não, você não é. Você pode ter alteração de humor, todo mundo tem, mas transtorno de humor é outra coisa.” E tinha a bebida e a dependência química. Era muito difícil trabalhar comigo. Em “Música divina música”, o elenco se esforçando, apareci bêbada, grávida de seis meses. Bebia todo dia e tinha medo que meu filho nascesse com problema. Em “Tudo sobre mulheres” (com Beth Goulart, Clarice Niskier e Mariana Lima), eu já estava muito adoecida, faltava ensaios, as três iam lá em casa e eu trancava a porta. Tinha hiatos de sobriedade e recaía. Mas se Paulo José e Zezé Polessa trabalharam mais de uma vez comigo é porque eu tinha uma inteligência cênica.
Como você se recuperou?
Fui internada em quatro clínicas, duas para dependência química, duas por bipolaridade. Os diagnósticos eram confusos, falavam em borderline, sequela por dependência química, distimia, depressão... Só falavam por alto de bipolaridade. Até que fui tratada em Buenos Aires pelo doutor Eduardo Kalina (o mesmo de Maradona), que me diagnosticou e me estabilizou. Descobri que herdei a doença de meu pai.
Como você se sente agora?
Já passei por todos os transtornos ligados a bipolaridade: síndrome de pânico, obsessão, compulsão (TOC), ansiedade, mania, controle, euforia, depressão. Sei me proteger: quando começo a ter algum sintoma procuro meu psiquiatra, Jiosef Fainberg. E frequento grupo de mútua ajuda. Tomava 21 cápsulas de remédio por dia, hoje são 12. Sou uma bipolar que deu certo, equilibrada, mas sem perder a essência. Tenho desejo de abrir uma escola de teatro, fazer cinema, escrever ficção, voltar à TV. Mas não como atriz (atuou em “Dancin’ days” e “Água viva”), e sim apresentadora ou debatedora. É uma corrida pela minha recuperação. Alguns podem andar, eu tenho que correr. Mas sem pressa, porque o doutor Kalina diz que minha condição não permite pensar e executar várias tarefas simultaneamente. Hoje sou uma pessoa absolutamente possível para qualquer ser humano.
Fonte: Revista O Globo - O Globo - 31/01/10.
oi ticiane meu nome e rosangela sei que seu cachorro se chamava skip sou filha da empregada da sua mae vera
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