Atriz, que foi rainha da pornochanchada nos anos 70, diz que sofreu preconceito
De que adianta uma longa carreira no cinema nacional se a memória do brasileiro é curta? Qualquer pesquisa mostra o extenso currículo de Sandra Barsotti, considerada rainha da pornochanchada na década de 70, com filmes como ‘Quando as Mulheres Paqueram’ e ‘O Marido Virgem’, entre mais de 20 títulos. Para muitos telespectadores desavisados, no entanto, ela faz apenas um personagem coadjuvante em ‘Viver a Vida’, como Yolanda, mãe da médica Ariane (Christine Fernandes).
Em algum lugar do passado, houve ressentimento pelo esquecimento de que foi vítima. Hoje não mais, ela garante. “Eu não sabia direito o que estava acontecendo, nem sabia ir à luta por mim mesma. Fiquei magoada e isso envolve uma questão de vaidade também. Fui fazendo coisas para sobreviver”, conta Sandra.
Na época do Plano Collor, início dos anos 90, como muitos brasileiros, ela perdeu dinheiro e foi trabalhar no Free Shop do aeroporto do Galeão. O primeiro voo que recebeu vinha de Portugal, país onde ficou famosa principalmente por causa de Carolina, protagonista da novela ‘O Casarão’, de 1976. “Foi uma situação difícil, parecia um enterro. No primeiro dia chorei, porque aquilo não tinha a ver com meu universo. Eles me reconheciam por causa de meu trabalho”, recorda ela, com certo bom humor.
Aos 58 anos, Sandra prefere valorizar o que aprendeu na vida a enfatizar as dificuldades que já enfrentou. “Com tudo isso eu cresci, me transformei em outra mulher, me libertei de preconceitos”, assume. Preconceito, aliás, ela conhece de perto. Quando era considerada uma das mais belas mulheres de nosso cinema, era vítima de trotes e pouco caso. “Já me convidaram para ser júri de festival de música e quando cheguei era para escolher a ‘pica de ouro’. O pessoal que fazia teatro cabeça também não me convidava para trabalhar”, lembra.
Hoje, com um diploma de Letras e muitas reflexões depois, ela se diz feliz com sua volta às novelas e sente o mesmo do público que a reconhece nas ruas. Um ex-colega de turma preparou até um blog em sua homenagem (sandrabarsottiatriz.blogspot.com). “Percebo entre os amigos e vizinhos que eles se sentem premiados como eu. A gente morre muitas vezes na vida e nasce. Eu não considero que dancei. Só se foi em um grande baile”.
Fonte: O Dia - 24/10/09.
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