
Depois de Fernanda Montenegro completar 80 primaveras em outubro, chega a vez de outra dama da TV e do teatro fazer aniversário. No dia 9, Eva Todor chegou aos 90 anos colecionando diversos personagens memoráveis e uma carreira de sucesso sem interrupção, como a própria faz questão de enfatizar. Sobre a data, Eva diz que gostaria de ser um pouco mais jovem, mas não esconde a alegria com o resultado de sua carreira: “Tenho 90 bem vividos, muito aproveitados. Com muito amor e muito sucesso.”
Quando criança, a atriz, que nasceu na Hungria, já tinha intimidade com os palcos, isto porque ela era bailarina da Ópera Real de Budapeste. Quando veio para o Brasil com a família, começou a estudar dança clássica com Maria Olenewa no Theatro Municipal. Seu próximo passo foi ingressar no teatro, onde conheceu o diretor Luiz Iglesias e casou-se com ele aos 14 anos. Eva confessa que é muito grata ao marido, que a lançou no mundo artístico: “Uma das memórias mais especiais do início da minha carreira é ter casado com um homem de teatro e ele me lançar como atriz. Ele tinha a companhia Teatro Recreio e resolveu mudar o nome para “Eva e seus Artistas”, que permaneceu por mais de 30 anos”, diz.
E foi no teatro que Eva Todor se encontrou. Ela diz que não achava que seria capaz de fazer outra coisa na vida até encontrar a televisão. Há trinta anos, a atriz conciliava os dois, mas com o passar do tempo, optou por ficar apenas com a TV: “Eu escolhi a televisão porque é mais fácil para mim. Os dois maridos que eu tive morreram e eles se envolveram muito no teatro comigo. Na minha solidão, eu preferi ficar só com a televisão”.
Todor conta que a comédia é o gênero que mais gosta de interpretar, mas não deixa de lado os papéis dramáticos que já fez ao longo de sua carreira. O responsável por incitar a veia cômica da atriz foi Luiz Iglesias, que contratou Eduardo Vieira para ajudá-la a aprender o Português e a usar adequadamente as palavras: “Eu nunca cursei uma escola de teatro, eu sou autodidata. O Eduardo ficou comigo durante 14 anos me ensinando Português e a arte de falar: como eu devia flexionar os verbos, como seria mais engraçado, como eu devia valorizar a pontuação, enfim, a arte de representar”, lembra.
Eva coleciona papéis inesquecíveis para a dramaturgia brasileira, mas gosta de citar Kiki Blanche, sua estreia na novela “Locomotivas”, como uma das mais especiais: “Todas as minhas personagens foram importantes, a partir do momento que elas agradem ao público. Eu só gosto de fazer teatro, televisão ou cinema quando dá público. Esse negócio de ter amor à arte e ter a plateia vazia, não é comigo.” Por falar em público, a atriz revela que adora receber o carinho dos fãs e diz que deve sua popularidade à TV e aos papéis que vem interpretando: “Esse gênero popular é o que eu trabalho por todo a vida, conhecido como ‘gênero Eva’, que traz uma brejeirice, uma ponta de humor espontâneo, mas sem ser apelativo, sem cair para a chanchada e sem ser besteirol. É o humor a sério”, define.
A sétima arte também não fica de fora do extenso currículo de Eva Todor. Apesar de ter feito poucos filmes, a atriz diz que gostaria de ter participado mais destas produções e revela que isso ainda faz parte de seus planos: “Sei que não serei a primeira figura porque a primeira figura é sempre uma jovem daquelas que dá aqueles beijos tipo desentupidor de pia e eu não vou fazer isso, nem tenho idade para isso. No teatro europeu e no teatro americano, não faltam textos e filmes para atrizes de meia idade fazendo primeiríssimos papéis. Aqui, por enquanto, os autores não pensam nisso, entretanto, acho que qualquer argumento que eles escrevam cabe uma velhota engraçada”. O último trabalho de Eva nas telonas foi em “Meu Nome não é Johnny”, no qual ela fazia uma senhora que vendia drogas. O personagem rendeu muitas piadas nas ruas, já que sempre que passeava próximo ao seu apartamento, os fãs a abordavam para falar sobre o filme.
Ganhadora de diversos prêmios em sua carreira, inclusive da Ordem do Mérito Cultural 2008, entregue pelo Presidente Lula no ano passado, Eva dá a dica para quem quer ingressar na carreira artística: “É preciso muita persistência porque essa é a única maneira de vencer no teatro. É importante entrar para TV ou teatro porque goste realmente e não pela fama. Teatro é muito importante na vida de qualquer pessoa, então deve ser levado a sério”.
Fonte: Globo Teatro.