domingo, 11 de abril de 2010

Dois dry martínis e a conta...com Maurício Branco



Na época da discoteca, Maurício Branco tinha 8 anos. Ia às matinês e ganhava todos os concursos de dança com a irmã, como uma espécie de mini Tony Manero, o John Travolta de “Os embalos de sábado à noite”. Agora, ele codirige, com Patricia Faloppa, o documentário “Rio 77/78”, que revive a era disco. Uma fase muito doida, como contam os 40 entrevistados, das Frenéticas a Daniel Filho. “Quando você pergunta (sobre a época), as pessoas falam: ‘Não me lembro.’ Claro, estava todo mundo louco”, diz Nelson Motta. A ideia é lançar no Festival do Rio, mas já há trailer no YouTube.

Como ator, ele gravou a minissérie “Natália”—o piloto foi ao ar na terça na TV Brasil. Além de atuar e dirigir, ele agora é produtor e captador—corre atrás de dinheiro para “Made in Brazil”, de Sérgio Goldenberg, e um projeto de Marcelo D2.

Branco era um dos maiores festeiros do Rio, mas hoje se diz mais focado no trabalho. Seu namoro com Betty Faria ficou famoso. “Hoje é moda namorar mulher mais velha, mas fui massacrado. Acharam que queria me promover”, diz. Ele admite ser vaidoso: “Minha vaidade foi meu segredo para não morrer. Conheci muita gente doida. Poderia estar aí, caindo aos pedaços, como tantos da minha geração.”


REVISTA O GLOBO: Como é a minissérie “Natália”?

MAURÍCIO BRANCO: É a história de uma menina suburbana, evangélica, que acompanha a irmã a uma agência de modelos. A irmã não passa, mas ela é descoberta. Interpreto Glória, responsável pela transformação dela numa top model. Vi o “BBB” e achei interessante a história do Serginho. Resolvi pegar características dele para pôr no meu personagem, que é um gay muito afetado e moderno. Quero fazer de uma forma real, para que gente como o Serginho se identifique. É pertinente num momento como esse, com tanta homofobia. Vi uma apresentadora de TV a cabo dizer em tom de deboche: “Ricky Martin assumiu que é gay. Viva la bicha loca!” Fiquei chocado.

Por que um documentário sobre a época da discoteca?

Ele começa com a inauguração da boate Dancin’ Days. Foi um período marcante. Como eu disse certa vez: “As pessoas se vestiam bacana para dançar. Acelerava a libido. Hoje não tem elegância. Tem homem que sai à noite de bermuda. E a música eletrônica não emociona.” Estou produzindo ainda outro filme, mas de ficção, passado em Brasília, inspirado na história do índio Galdino (que foi queimado). Gostaria que o Mauro Lima dirigisse. E criei um programa de TV, “A princesa e o plebeu”. Eu visito lugares chiques, e a Paola de Orleans e Bragança vai a locais carentes.


Tem feito sucesso entre seus amigos “Chupalaiê”, versão que você fez para “Shimbalaiê”, de Maria Gadú...

Estreio no fim do ano o show “Chulo”, com produção do Dé (ex-Barão). Vou cantar versões (sacanas) que faço de músicas conhecidas. No meu primeiro show, “Uma noite em branco”, eu fazia imitações, como a da Heleninha Roitman (Renata Sorrah em “Vale tudo”). Aos 3 anos, eu já era assim. Via a novela “Saramandaia”e imitava o elenco. Passei a fazer isso em festas e mesas de bar. Amigos como Caetano comentavam, e resolvi profissionalizar. Esse tipo de show é o que faço melhor. E dei certo em coisas mais engraçadas. Quando interpreto papel sério, fico canastra.


Você está dirigindo, atuando, produzindo, captando, fazendo imitações, cantando...

Estou com 40 anos e 20 de carreira. Ou melhor, estou comemorando 20 anos em que estou na estrada, porque minha carreira não é tão brilhante assim. Acho que vai começar agora. A partir daqui é o que interessa. É uma nova fase. Apesar de estar dirigindo, produzindo e captando, não quero parar de atuar. A TV pode ter me esquecido, mas eu não esqueci a TV. Da minha geração, sou o ator que está menos em atividade, mas toda vez que me deram chance de fazer um teste eu levei o papel. Em “Labirinto”, eram 80 atores. E ganhei.


Você era muito amigo de Renato Russo, não?

Ele era meu melhor amigo. Meu pai, que morreu há dois anos, escreveu uma peça para mim, um ensaio dramatizado sobre o modernismo no século XX. Eu interpretaria (o bailarino) Nijinski. Renato se encantou, e resolveu fazer a trilha. Chegou a começar, mas morreu. Eu tenho esse material. Fiquei muito desanimado e parei. Certa vez, ele fez uma música chamada “Maurício”. Num show, o Paulo Ricardo disse que foi feita para mim. Não. Ela foi feita para um namorado do Rio Grande do Sul. É que ele me perguntou: “Que nome eu ponho na música?” Falei: “Ah, põe o meu aí.”


Por Mauro Ventura - Revista O Globo - 11/04/10.

2 comentários:

  1. Veja o piloto de Natália em

    http://www.tvbrasil.org.br/fictv/natalia/

    Mauricio está muito bem!

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  2. Mt boa entrevista Mauricio, realmente vc era um dos top da Globo, e acho otimo q vc admita esse 'ostracismo', mas um ostracismo da telinha, q continua produtivo e seletivo.
    Espero sinceramente q vc consiga tudo o q quer em termos artisticos, pois te acho corajoso d tentar vencer sem estar na Globo.
    Parece q a ideia desse texto sobre Nijinski pode render frutos otimos.....e parabens tb pela coragem d assumir tao simplesmente q eh gay....
    abs e boa sorte em tudo!
    jony.

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