segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Fernando Eiras é Chopin nos 200 anos de nascimento do compositor



Ele já incorporou Nietzsche, Francisco Alves, Mário Reis, Fernando Sabino. Agora, é a vez de interpretar Chopin.

— Na verdade, vou evocar Chopin — corrige Fernando Eiras.

Ao lado da pianista Linda Bustani e da mezzosoprano Carolina Faria, o ator estrela o espetáculo “Chopinissimo — Chopin, o poeta do piano”.

Será no dia 22, data que marca os 200 anos de nascimento do compositor polonês. O concerto-cênico, que acontece às 19h, no Sesi, com entrada franca, inaugura a série de música clássica do teatro e faz parte de um projeto concebido pela jornalista e pianista Eli Rocha que inclui ainda uma exposição de fotografias, um bate-papo e exibição de DVDs.

Que ninguém espere encontrar o ator de peruca ou com alguma caracterização fiel à época.

— Ele vai ter um ar de século XIX. A roupa remete ao período — diz Eli. — Afinal, não é teatro.

— Não estou fazendo uma dramaturgia — reforça Eiras, que completa 53 anos um dia antes da apresentação. — A música é a protagonista. Eu apresento o artista e sua obra, conto para o público quem é essa criatura.

A pesquisa é da própria Eli, que se baseou em cartas e diários do compositor, além de informações deixadas por seus contemporâneos. O roteiro é da filósofa Viviane Mosé. E o próprio Eiras colaborou no texto, escrevendo, por exemplo, o final.

No espetáculo, o ator fala sobre a nostalgia da pátria, o sucesso nos salões de Paris, a ruptura do noivado com Maria Wodzinska e a paixão avalassadora pela Baronesa de Dudevant, mais conhecida como a escritora George Sand. Chopin fala de uma promessa que Sand fez: “E ela disse que eu só morreria em seus braços.” Não foi o que aconteceu, ele morreu cercado de amigos, sem ela por perto.

Eiras fez parte de um projeto musical no CCBB em que apresentava compositores como Lizt, Carlos Gomes e Mahler.

— O Mahler dele me deixou emocionada — conta Eli, explicando de onde veio a ideia de chamar o ator. — Mas agora ele vai ficar o tempo todo no palco, diferentemente do que acontecia no outro projeto.

Em certos momentos, Eiras é Frédéric Chopin, ou seja, ele fala como se fosse o compositor.
Em outros, Eiras é o narrador, comentando passagens da vida do artista polonês.

— É como se Chopin voltasse, 200 anos depois, para uma plateia do século XXI. É um espetáculo para quem gosta e para quem não conhece o compositor — diz Eli.

Curiosamente, Eiras não toca piano. Preferiu desde cedo concentrarse no teatro e no canto.
— Não aprendi porque achei que precisava do teatro para me comunicar com os outros — diz ele, que vai cantar uma canção polonaise ou uma pequena mazurca.

Linda Bustani vai apresentar obras pouco executadas, como “Mazurca opus 7 no1”, “Valsas opus 34 no2 e opus 69 no1”, “Noturno opus 27 no2”, “Scherzo no3”, “Prelúdio no2” e as “Variações brilhantes opus 12”. Carolina Faria cantará algumas melodias polonesas para canto e piano.

O projeto tem o apoio do Ministério da Cultura e da Herança Nacional da Polônia, do Ministério das Relações Exteriores da Polônia, da Embaixada da Polônia no Brasil, dos consulados em São Paulo e em Curitiba, do Instituto Nacional Fryderyk Chopin e da Fundação Open Art Projects, de Varsóvia.

Tudo começou no ano passado, quando Eli se lembrou de que 2010 era o Ano Chopin e idealizou o projeto, que entrou na programação oficial dos festejos do bicentenário.

— Ganhamos o s apoios porque eles viram que era uma brasileira fazendo um projeto para os brasileiros. E porque tem um lado educacional forte.

Além do concertocênico, o projeto traz uma exposição de fotografias do Instituto Fryderyk Chopin, no foyer do teatro. São 16 painéis, com fotos como a que mostra o compositor com roupas caseiras.

No dia 23, às 15h, haverá um bate-papo com o crítico Rodolfo Valverde, junto com a apresentação de DVDs musicais.

E, no dia 24, no mesmo horário, também no Sesi, será exibido o DVD do filme “À noite sonhamos”, cinebiografia do compositor.

Em seguida ao Rio, o projeto segue para São Paulo e Curitiba. O embaixador da Polônia quer levá-lo ainda para Belo Horizonte e Brasília.

— Esse projeto é uma espécie de buquê, uma pequena coisa gentil que está sendo oferecida por criaturas que amam a música clássica e que querem celebrar esse aniversário — define Eiras.


O Globo - 14/02/10.

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