domingo, 6 de dezembro de 2009

Pedro Aguinaga - O homem mais bonito do Brasil’ está fazendo 60 verões, já é avô e diz que agora sim, está pronto para trabalhar



Você pode não saber quem ele é, mas sua mãe sabe. Em 1970, Pedro Aguinaga era um garoto lindo e cheio de amigos quando bateu o Gordini da tia na Praia de Botafogo e, para pagar o conserto, se inscreveu num concurso de beleza. Era a primeira disputa de beleza masculina da TV brasileira, no programa de Flávio Cavalcanti na Tupi. Pedrinho, como era conhecido, deu as caras, ganhou a primeira etapa, decidiu continuar no concurso e, 12 semanas depois, foi eleito “o homem mais bonito do Brasil”.

Daí em diante, virou lenda. Uma hora, estava em Nova York circulando no Studio 54 com Andy Warhol ou almoçando com Maria Callas num hotel da Quinta Avenida. Em outra, dava pinta na boate da moda em Paris. E colecionava conquistas amorosas. Liza Minelli, Bianca Jagger, Demi Moore, Marisa Berenson... e Monique Evans, com quem teve um filho, Armando, hoje com 31 anos. Por aqui, Pedro foi modelo, garoto-propaganda de cigarro, astro de bailes de debutantes e ator de nove filmes. Nos Estados Unidos, chegou a vender esmeraldas. Em Minas, teve um restaurante e um ateliê de bordados. A vida do homem mais bonito do Brasil, como se vê, renderia um livro mole, mole. E talvez renda. Prestes a completar 60 anos e alçado à categoria de avô faz seis meses, Pedro Aguinaga pensa em reescrever sua história. Mas como ficção, para evitar saias-justas.

Se fosse autobiográfico, começaria na Casa de Saúde São José, no Humaitá, onde ele nasceu. Filho de pai brasileiro (Fernando Aguinaga, conhecido como Barão) e mãe americana (Claudine, de quem herdou os olhos claros), Pedro cresceu viajando. Aos 11 anos, os avós paternos, querendo dar jeito no guri, o matricularam num internato em São João Del Rey. Magrelo, ele penou com a implicância dos colegas mineiros.

— Na primeira vez que tirei a calca pra botar pijama, eu usava cueca jockey. Aí, um gritou: “Ih, ó lá, o carioca é viado. Tá de calcinha.” Já começou o meu drama aí — ele dá uma risada.

Um dia, o carioca ficou amigo de um nerd grandão. E nunca mais ninguém mexeu com ele. Saía da manga, assim, um dos maiores talentos de Pedro Aguinaga: a capacidade de fazer amigos.

Rico, ele nunca foi. E também não investiu a sério numa carreira.

— Não sou de responsabilidades — ele diz, sem medo de julgamentos.
Por muito tempo, o escritório de Pedro Aguinaga foi a areia. E ele vivia entre a Praia do Diabo e o Arpoador, jogando frescobol de um lado e charme pras meninas do outro. Vivia, como diz, o melhor do Rio nos anos 70.

Tempos especiais, ele garante: — A Zona Sul era uma alegria, dava pra amarrar cachorro com linguiça de tão tranquilo. Tudo era bom. A violência era pouca, as drogas eram boas. Era uma coisa muito romântica.

Pedro até flertou com o terno e gravata, mas por pouco. A família queria que ele fosse diplomata, então ele foi estudar direito. Mas largou.

— Comecei a receber convite pra tudo — ele explica.

“Tudo” incluía desfiles, campanhas publicitárias, festas e viagens. Como não cumpria uma agenda noveagrave;s-cinco, ele tinha tempo de curtir o que a vida oferecesse. E ela ofereceu cinema.

Em 1970, pintou um convite para atuar em “Minha namorada”, longa de Zelito Viana, com Fernanda Montenegro e outro gato da época, Arduíno Colasanti.

Três anos depois, ele conseguiu um papel em “O judoka”, de Marcelo Ramos Motta, ao lado de Elizângela. Fez também filmes dos Trapalhões e longas dirigidos por Neville d’Almeida (“Rio Babilônia”, em 1982; “Matou a família e foi ao cinema”, em 1991; e “Navalha na carne”, em 1997). Mas não pensou em fazer disso uma profissão.

Em 1972, uma amiga que vivia em Nova York chamou Pedro para dar um tempo lá. Ele foi. E teve perfil publicado na mítica revista “Interview”, de Andy Warhol. Com a beleza abrindo portas de um lado e o prestígio dos amigos abrindo do outro, o galã carioca ganhou o mundo. E bombou nas colunas sociais. Em meados dos anos 70, de volta do Brasil, virou a cara do cigarro Chanceller, sob o esquisito slogan “O fino que satisfaz”.

— Nunca tive o melhor carro mas sempre andei no melhor carro. Nunca tive avião, mas sempre andei nos melhores aviões. Eu tenho um capital: grandes amigos. E se hoje eles são ricos ou não isso não me interessa — diz.

Pedro parece ter exercitado o desapego. Hoje, diz que leva uma vida espartana. Mora em Copacabana num prédio antigo construído pela avó (o edifício carrega o nome dela, Alice) e vive de aluguel. Do dentista ao cardiologista, não marca consulta, é atendido por amigos. Caminha todos os dias, só se locomove de bicicleta, faz meditação. Marcou a entrevista num restaurante a quilo na Siqueira Campos.

Na hora marcada, estava lá: camisa preta, dois botões abertos, mangas arregaçadas, calça black jeans, docksider sem meia, cabelos grisalhos, corpo bronzeado. Com 1,80m de altura, mantém os mesmos 68 quilos há anos. Fuma desde os 11. E fala do passado como quem viveu aquilo ontem. Sempre citando, com nome, sobrenome e aposto, cada personagem envolvido.

A ex-modelo e atriz Tânia Caldas, que o conheceu no auge da beleza e da fama, diz que o que mais impressionava era o lado amigável de Pedro.

— Ele sempre foi uma pessoa muito agradável. Não o vejo sempre, mas tenho o maior prazer quando o encontro. É o “amigo dos amigos”.

Monique Evans lembra de uma vez em que ganhou um carro de presente do primeiro marido. Pedro, sempre autoconfiante, vivia dizendo que ela ainda ia se casar com ele. Então, quando soube do presente, ele fez graça: deu um carrinho de brinquedo para ela. Anos depois, profecia cumprida, os dois foram viver juntos, Armando nasceu e, pouco depois, eles se separaram.

— Ele é inteligente, podia ter feito muitas coisas. Um desperdício... — ela diz.

Pedro também reconhece que podia ter feito mais. No início dos anos 80, quando os paetês estavam em alta, ele teve um ateliê de bordados em Uberaba.


Vendeu pra várias it girls, chegou a exportar, mas o negócio deu errado. Depois, teve um restaurante em Belo Horizonte, mas desavenças com o sócio o levaram a pular fora. A venda de esmeraldas foi um bico nos Estados Unidos. Um amigo exportava as pedras e Pedro se encarregava de fechar o negócio com compradores.

— Pensando bem, hoje eu estou pronto pra qualquer assunto. Geralmente o cara se diverte até os 20, trabalha até os 50 e depois se aposenta.

Eu fiz o contrário. Agora tô pronto pra trabalhar — ele diz. — Se eu tivesse a cabeça de hoje naquele corpo, eu era presidente da República. Afinal, tem gente que envelhece cedo e gente que não envelhece. Eu sou assim. Sou meio Peter Pan.


Fonte: O Globo - Revista O Globo - 06/12/09.




3 comentários:

  1. olá, boa noite. procuro pedro aguinaga para atuar em curta-metragem. pode me ajudar a entrar em contato? temos um personagem para ele e não consigo encontrá-lo. agradeço muito qquer ajuda, um abraço, vanessa.

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  2. Continua um homem lindo. Completo. Adoraria poder fazer uma entrevista com este ícone da beleza masculina para o meu Blog - podem me ajudar a achar um telefone - ou endereço de e-mail para onde enviar uma entrevista? O meu endereço é: sollmarinhogmail.com

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