quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Retrospectiva 2009: Obituário - Renato Consorte



Morreu na tarde de 26/01/09, o ator paulistano Renato Consorte, de 84 anos. Ele perdeu a luta contra um câncer na próstata.

Consorte teve papéis de destaque na televisão, como o Chalita da novela "Tieta". Sua última aparição na TV foi uma participação na trama "Bang Bang" como o padre Jeremy Hacker, no início de 2006.

Ele estreou no cinema em 1950 e somou mais de 40 filmes no currículo, entre eles "O bandido da luz vermelha", "Eles não usam black-tie" e "Rio 40 graus". Seu último filme foi "O homem que desafiou o diabo", de Moacyr Góes, no qual ele intepretou Turco, em 2007.

Biografia

Renato Consorte, filho de italianos, nascidos na região dos Abruzos, sonhava fazer Medicina mas acabou cursando a Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Acabou fazendo parte da "Caravana Artística XI de Agosto", da Faculdade, viajando por todo o interior, cantando e representando.

Através de Inezita Barroso e Maurício Barroso é indicado para um teste no TBC e estréia em 1949, na peça "A Noite de 16 de Janeiro". Em 1949 participa da formação da Companhia Cinematográfica Vera Cruz onde começa como gerente de produção e se torna depois um de seus principais atores.

A estréia no cinema é em 1950 na produção "Caiçara" ao lado de Eliane Lage, Mário Sérgio e Abílio Pereira de Almeida. Já participou de cerca de 40 filmes, sendo 18 deles na Vera Cruz. Alberto Guzik destaca a participação de Consorte em O Grande Momento de Roberto Santos.

Na televisão fez programas humorísticos como "Família Trapo" e algumas novelas como "Papai Coração" na TV Tupi; "A História de Ana Raio e Zé Trovão" na TV Manchete e "O Primo Basílio", "Tieta" e "Bang bang" na Rede Globo. Participou de um quadro humorístico duradouro com Walter D'Ávila na TV Rio.

No teatro participou ainda de Roda Viva de Francisco Buarque de Hollanda peça que marcou o teatro brasileiro por sua inovação estética e também pela invasão do Comando de caça aos comunistas. Segundo o crítico Alberto Guzik, Renato tinha um grande tempo para a interpretação da comédia. Renato, como ator de Gota D'Água participou ativamente da jornada de teatro pela anistia, em São Paulo em maio de 1977, quando todos os teatros abriram gratuitamente pela anistia e fim da tortura no Brasil, face a prisão de Celso Brambilla, Márcia Bassetto Paes, José Maria de Almeida e outros operários presos no primeiro de maio no ABC.

O sobrenome Consorte e o desastre de avião

Renato Consorte participou inesperadamente de um fato inusitado, mas que foi acompanhado por toda população brasileira da época, via televisão e rádio. Em 1963 um avião cai na Avenida Indianópolis, perto do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo matando todos os tripulantes e passageiros. Renato Consorte foi o único sobrevivente, estando por vários dias com a vida por um fio. Felizmente, depois de dias de tratamento, recebe-se a notícia de seu pleno restabelecimento, após ter o corpo quase todo queimado. Conta-se que o Consorte de seu sobrenome se deve a este fato.

Trechos de depoimentos de Renato Consorte sobre sua participação política

Sempre fiz política, lutei pela liberdade de expressão, pela abertura do campo de trabalho para os atores, pela anistia, pelo direito de voto. Combati a ditadura, o regime militar. (…) Na época da repressão, eu aproveitava o teatro para fazer política. Quando o coronel Erasmo Dias invadiu a PUC, eu fazia os Saltimbancos no Tuca - aliás, fui o único ator do mundo que fez duas peças do mesmo autor, o Chico Buarque, no mesmo dia, porque eu entrava em Gota DAgua à noite. Meu papel era de um jumento, então eu disse em cena: - Eu sou um jumento. (…) Era o governo do João Figueiredo, eu dizia: - Com os equinos, agora, nós não subimos escada, subimos rampa. A censura me chamou no ato.

Pela parte que me toca: Fui preso na rua, no dia do meu aniversário de casamento (31/1/69), por três tenentes do exército, sendo que, um deles, reconheci como participante das nossas assembléias. Este, depois de me dar voz de prisão, me levou, dentro de um jipão com mais 10 soldados fortemente armados, para o quartel do REC-MEC no Ibirapuera. Chegando lá, fui entregue a a dois majores: um muito boçal que disse ter-me visto no teatro "fazendo papel de gorila". Isso tinha sido na peça de Plínio Marcos, "Verde que te quero verde", em que eu fazia um gorila com uniforme do exército e censurava tudo quanto era texto, rasgando e riscando, isto sem falar em muitos outros detalhes incluídos com intuito de desmoralizar os censores da época. Esse major me martirizou muito, mentalmente, tentando me atemorizar.

O outro major, de nome Beltrão, me tratou delicadamente, se dizendo meu admirador desde o tempo em que eu trabalhava no Rio, e fazia questão de me tratar por SENHOR e acrescentava sempre: "o senhor vê que eu o trato com educação". Eu soube, depois, que esse major matava os nosso companheiros, dando-lhes um tiro na nuca. Naturalmente, antes de atirar ele devia pedir "licença" ao sacrificado. Ele me perguntou, entre tantas coisas, o que eu achava do CCC. Me fazendo de ingênuo, eu disse que "se tratava de um grupo de estrangeiros com o intuito de lançar brasileiros contra brasileiros". Ao que ele observou, espantado: "Não, senhor Roberto! Eles são daqui do nosso quartel mesmo!". Aquele major boçal chegou a me dizer: "O exército brasileiro, senhor Renato Consorte, está com o senhor por aqui". E fez aquele gesto tocando na testa. Pensei comigo: "quanta honra". E basta, porque o meu sistema nervoso se descontrolou.


No Teatro

* 1959 O Mambembe de Arthur Azevedo. Direção Gianni Ratto. Teatro Municipal RJ - Cia. Teatro dos 7 (RJ) com Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Sérgio Brito, Zilca Salaberry.
* O Inventor de Cavalo
* Arena Conta Tiradentes - Teatro de Arena de São Paulo
* O Líder
* Verde Que Te Quero Verde – Episódio da Primeira Feira Paulista de Opinião de Plínio Marcos dir. Augusto Boal. Teatro Ruth Escobar (SP), 5/6/1968.
* Barrela de Plínio Marcos
* Arena Conta Bolívar - Teatro de Arena de São Paulo
* Participou da excursão do Teatro de Arena a Nova York, Lima, Buenos Aires e Cidade do México com Arena Contra Bolivar de Augusto Boal, com Lima Duarte
* 1977 Gota D'Água de Chico Buarque de Holanda, com Bibi Ferreira.


Na Televisão

* 1964 Prisioneiro de um Sonho - Barros
* 1966 Eu Compro Esta Mulher - João
* 1967 O Tempo e o Vento - Padre Lara
* 1970 O Meu Pé de Laranja Lima - Padre Juca
* 1971 Meu Pedacinho de Chão
* 1973 A Volta de Beto Rockfeller
* 1973 O Conde Zebra
* 1976 Papai Coração - Padre Bernardo
* 1979 Dinheiro Vivo
* 1985 O Tempo e o Vento - Padre Romano
* 1988 O Primo Basílio - Vicente Azurara
* 1989 Tieta - Chalita
* 1990 A História de Ana Raio e Zé Trovão - Comendador
* 1999 Você Decide
* 2004 Sob Nova Direção
* 2005 Bang Bang - Padre Jeremy Hacker


No Cinema

* 1950 - Caiçara
* 1951 - Ângela
* 1951 - Terra É sempre Terra
* 1952 - Apassionata
* 1952 - Sai da Frente
* 1952 - Tico-Tico no Fubá
* 1952 - Veneno
* 1953 - Esquina da Ilusão
* 1953 - Família Lero-Lero
* 1953 - Sinhá Moça
* 1954 - É Proibido Beijar
* 1954 - Floradas na Serra
* 1954 - Na Senda do Crime
* 1955 - Rio 40 Graus
* 1957 - A Baronesa Transviada
* 1957 - Osso, Amor e Papagaios
* 1959 - Garota Enxuta
* 1959 - Um Caso de Polícia
* 1961 - Ladrão em Noite de Chuva
* 1962 - Os Mendigos
* 1964 - Pluft, o Fantasminha
* 1968 - Cristo de Lama
* 1968 - O Bandido da Luz Vermelha
* 1974 - Gente que Transa
* 1976 - Sabendo Usar Não Vai Faltar
* 1979 - Ato de Violência
* 1979 - O Coronel e o Lobisomem
* 1979 - O Menino Arco-Íris
* 1980 - Curumim
* 1981 - Eles Não Usam Black-Tie
* 1984 - Cavalinho Azul
* 1984 - O Baiano Fantasma
* 1986 - Sonho Sem Fim
* 1987 - Os Trapalhões no Auto da Compadecida
* 1991 - Sua Excelência, o Candidato
* 1994 - Sábado
* 2005 - Cafundó .... ministro
* 2005 - O Casamento de Romeu e Julieta .... Imparato
* 2006 - Boleiros 2
* 2007 - O Homem que Desafiou o Diabo



Fontes de Consulta: O Globo, G1, Wikipédia, Blog do crítico teatral Alberto Guzik, Folha de São Paulo - nota sobre a carreira do ator, Depoimento de 1999 sobre participação política à Fundação Perseu Abramao, BOAL, Augusto. O que pensa você da arte de esquerda? In: PRIMEIRA Feira Paulista de Opinião. (Programa). São Paulo, 1968. Acervo AMM da Divisão de Pesquisas - Idart /CCSP, Enciclopédia Itaú Cultural, verbete Primeira Feira Paulista de Opinião, IMDb,



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